Resolução CNE/CP nº 1, de 18 de fevereiro de 2002

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Alunos na Aula de Informática, 1998. Fonte: Estado de Minas, 1998.

Resolução CNE/CP nº 1, de 18 de fevereiro de 2002

18 de fevereiro de 2002 Bárbara Matoso Comments Off

Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena.

RESOLUÇÃO CNE/CP Nº 1, DE 18 DE FEVEREIRO DE 2002 

Institui Diretrizes Curriculares Nacionais  

para a Formação de Professores da Educação  

Básica, em nível superior, curso de  

licenciatura, de graduação plena. 

O Presidente do Conselho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições legais e  tendo em vista o disposto no Art. 9º, § 2º, alínea “c” da Lei 4.024, de 20 de dezembro  de 1961, com a redação dada pela Lei 9.131, de 25 de novembro de 1995,e com  fundamento nos Pareceres CNE/CP 9/2001 e 27/2001, peças indispensáveis do conjunto  das presentes Diretrizes Curriculares Nacionais, homologados pelo Senhor Ministro da  Educação em 17 de janeiro de 2002, resolve: 

Art. 1º As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da  Educação Básica, em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena,  constituem-se de um conjunto de princípios, fundamentos e procedimentos a serem  observados na organização institucional e curricular de cada estabelecimento de ensino  e aplicam-se a todas as etapas e modalidades da educação básica. 

Art. 2º A organização curricular de cada instituição observará, além do disposto nos  artigos 12 e 13 da Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, outras formas de orientação  inerentes à formação para a atividade docente, entre as quais o preparo para: I – o ensino visando à  

aprendizagem do aluno;  

II – o acolhimento e o  

trato da diversidade; 

III – o exercício de atividades de  

enriquecimento cultural; IV – o  

aprimoramento em práticas  

investigativas; 

V – a elaboração e a execução de projetos de desenvolvimento dos conteúdos curriculares; 

VI – o uso de tecnologias da informação e da comunicação e de metodologias,  estratégias e materiais de apoio inovadores; 

VII – o desenvolvimento de hábitos de colaboração e de trabalho em equipe.

Art. 3º A formação de professores que atuarão nas diferentes etapas e modalidades da  educação básica observará princípios norteadores desse preparo para o exercício  profissional específico, que considerem: 

I – a competência como concepção nuclear na orientação do curso; 

II – a coerência entre a formação oferecida e a prática esperada do futuro professor, tendo em vista: 

a) a simetria invertida, onde o preparo do professor, por ocorrer em lugar similar  àquele em que vai atuar, demanda consistência entre o que faz na formação e o que  dele se espera; 

b) a aprendizagem como processo de construção de conhecimentos, habilidades  e valores em interação com a realidade e com os demais indivíduos, no qual são  colocadas em uso capacidades pessoais; 

c) os conteúdos, como meio e suporte para a constituição das competências; 

d) a avaliação como parte integrante do processo de formação, que possibilita o  diagnóstico de lacunas e a aferição dos resultados alcançados, consideradas as  competências a serem constituídas e a identificação das mudanças de percurso  eventualmente necessárias. 

III – a pesquisa, com foco no processo de ensino e de aprendizagem, uma vez que  ensinar requer, tanto dispor de conhecimentos e mobilizá-los para a ação, como  compreender o processo de construção do conhecimento. 

Art. 4º Na concepção, no desenvolvimento e na abrangência dos cursos de formação é  fundamental que se busque: 

I – considerar o conjunto das competências necessárias à atuação profissional; 

II – adotar essas competências como norteadoras, tanto da proposta pedagógica,  em especial do currículo e da avaliação, quanto da organização institucional e da gestão  da escola de formação. 

Art. 5º O projeto pedagógico de cada curso, considerado o artigo anterior, levará em conta que: I – a formação deverá garantir a constituição das competências objetivadas na educação básica; 

II – o desenvolvimento das competências exige que a formação contemple  diferentes âmbitos do conhecimento profissional do professor; 

III – a seleção dos conteúdos das áreas de ensino da educação básica deve  orientar-se por ir além daquilo que os professores irão ensinar nas diferentes etapas da escolaridade; 

IV – os conteúdos a serem ensinados na escolaridade básica devem ser tratados  de modo articulado com suas didáticas específicas; 

V – a avaliação deve ter como finalidade a orientação do trabalho dos formadores,  a autonomia dos futuros professores em relação ao seu processo de aprendizagem e a  qualificação dos profissionais com condições de iniciar a carreira.

Parágrafo único. A aprendizagem deverá ser orientada pelo princípio metodológico  geral, que pode ser traduzido pela ação-reflexão-ação e que aponta a resolução de  situações-problema como uma das estratégias didáticas privilegiadas. Art. 6º Na construção do projeto pedagógico dos cursos de formação dos docentes, serão  consideradas: 

I – as competências referentes ao comprometimento com os valores inspiradores  da sociedade democrática; 

II – as competências referentes à compreensão do papel social da escola; 

III – as competências referentes ao domínio dos conteúdos a serem socializados,  aos seus significados em diferentes contextos e sua articulação interdisciplinar; IV – as competências referentes ao domínio do conhecimento pedagógico; 

V – as competências referentes ao conhecimento de processos de investigação  que possibilitem o aperfeiçoamento da prática pedagógica; 

VI – as competências referentes ao gerenciamento do próprio desenvolvimento profissional. 

§ 1º O conjunto das competências enumeradas neste artigo não esgota tudo que uma  escola de formação possa oferecer aos seus alunos, mas pontua demandas importantes  oriundas da análise da atuação profissional e assenta-se na legislação vigente e nas  diretrizes curriculares nacionais para a educação básica. 

§ 2º As referidas competências deverão ser contextualizadas e complementadas pelas  competências específicas próprias de cada etapa e modalidade da educação básica e de  cada área do conhecimento a ser contemplada na formação. 

§ 3º A definição dos conhecimentos exigidos para a constituição de competências  deverá, além da formação específica relacionada às diferentes etapas da educação  básica, propiciar a inserção no debate contemporâneo mais amplo, envolvendo questões  culturais, sociais, econômicas e o conhecimento sobre o desenvolvimento humano e a  própria docência, contemplando: 

I – cultura geral e profissional; 

II – conhecimentos sobre crianças, adolescentes, jovens e adultos, aí incluídas as  especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais e as das  comunidades indígenas; 

III – conhecimento sobre dimensão cultural, social, política e  

econômica da educação; IV – conteúdos das áreas de  

conhecimento que serão objeto de ensino; 

V – conhecimento pedagógico; 

VI – conhecimento advindo da experiência.

Art. 7º A organização institucional da formação dos professores, a serviço do  desenvolvimento de competências, levará em conta que: 

I – a formação deverá ser realizada em processo autônomo, em curso de  licenciatura plena, numa estrutura com identidade própria; 

II – será mantida, quando couber, estreita articulação com institutos, departamentos e cursos de áreas específicas; 

III – as instituições constituirão direção e colegiados próprios, que formulem seus  próprios projetos pedagógicos, articulem as unidades acadêmicas envolvidas e, a partir  do projeto, tomem as decisões sobre organização institucional e sobre as questões  administrativas no âmbito de suas competências; 

IV – as instituições de formação trabalharão em interação sistemática com as  escolas de educação básica, desenvolvendo projetos de formação compartilhados; V – a organização institucional preverá a formação dos formadores, incluindo na  sua jornada de trabalho tempo e espaço para as atividades coletivas dos docentes do  curso, estudos e investigações sobre as questões referentes ao aprendizado dos  professores em formação; 

VI – as escolas de formação garantirão, com qualidade e quantidade, recursos  pedagógicos como biblioteca, laboratórios, videoteca, entre outros, além de recursos  de tecnologias da informação e da comunicação; 

VII – serão adotadas iniciativas que garantam parcerias para a promoção de  atividades culturais destinadas aos formadores e futuros professores; VIII – nas instituições de ensino superior não detentoras de autonomia  universitária serão criados Institutos Superiores de Educação, para congregar os cursos  de formação de professores que ofereçam licenciaturas em curso Normal Superior para  docência multidisciplinar na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental  ou licenciaturas para docência nas etapas subseqüentes da educação básica. Art. 8º As competências profissionais a serem constituídas pelos professores em  formação, de acordo com as presentes Diretrizes, devem ser a referência para todas as  formas de avaliação dos cursos, sendo estas: 

I – periódicas e sistemáticas, com procedimentos e processos diversificados,  incluindo conteúdos trabalhados, modelo de organização, desempenho do quadro de  formadores e qualidade da vinculação com escolas de educação infantil, ensino  fundamental e ensino médio, conforme o caso; 

II – feitas por procedimentos internos e externos, que permitam a identificação  das diferentes dimensões daquilo que for avaliado; 

III – incidentes sobre processos e resultados.

Art. 9º A autorização de funcionamento e o reconhecimento de cursos de formação e o  credenciamento da instituição decorrerão de avaliação externa realizada no locus  institucional, por corpo de especialistas direta ou indiretamente ligados à formação ou  ao exercício profissional de professores para a educação básica, tomando como  referência as competências profissionais de que trata esta Resolução e as normas  aplicáveis à matéria. 

Art. 10. A seleção e o ordenamento dos conteúdos dos diferentes âmbitos de  conhecimento que comporão a matriz curricular para a formação de professores, de que  trata esta Resolução, serão de competência da instituição de ensino, sendo o seu  planejamento o primeiro passo para a transposição didática, que visa a transformar os  conteúdos selecionados em objeto de ensino dos futuros professores. 

Art. 11. Os critérios de organização da matriz curricular, bem como a alocação de  tempos e espaços curriculares se expressam em eixos em torno dos quais se articulam  dimensões a serem contempladas, na forma a seguir indicada: 

I – eixo articulador dos diferentes âmbitos de conhecimento profissional; 

II – eixo articulador da interação e da comunicação, bem como do  desenvolvimento da autonomia intelectual e profissional; 

III – eixo articulador entre disciplinaridade e interdisciplinaridade; 

IV – eixo articulador da formação comum com a formação específica; 

V – eixo articulador dos conhecimentos a serem ensinados e dos conhecimentos  filosóficos, educacionais e pedagógicos que fundamentam a ação educativa; VI – eixo articulador das dimensões teóricas e práticas. 

Parágrafo único. Nas licenciaturas em educação infantil e anos iniciais do ensino  fundamental deverão preponderar os tempos dedicados à constituição de conhecimento  sobre os objetos de ensino e nas demais licenciaturas o tempo dedicado às dimensões  pedagógicas não será inferior à quinta parte da carga horária total. 

Art. 12. Os cursos de formação de professores em nível superior terão a sua duração  definida pelo Conselho Pleno, em parecer e resolução específica sobre sua carga horária. § 1º A prática, na matriz curricular, não poderá ficar reduzida a um espaço isolado, que  a restrinja ao estágio, desarticulado do restante do curso. 

§ 2º A prática deverá estar presente desde o início do curso e permear toda a  formação do professor. 

§ 3º No interior das áreas ou das disciplinas que constituírem os componentes  curriculares de formação, e não apenas nas disciplinas pedagógicas, todas terão a sua  dimensão prática.

Art. 13. Em tempo e espaço curricular específico, a coordenação da dimensão prática  transcenderá o estágio e terá como finalidade promover a articulação das diferentes  práticas, numa perspectiva interdisciplinar. 

§ 1º A prática será desenvolvida com ênfase nos procedimentos de observação e  reflexão, visando à atuação em situações contextualizadas, com o registro dessas  observações realizadas e a resolução de situações-problema. 

§ 2º A presença da prática profissional na formação do professor, que não prescinde da  observação e ação direta, poderá ser enriquecida com tecnologias da informação,  incluídos o computador e o vídeo, narrativas orais e escritas de professores, produções  de alunos, situações simuladoras e estudo de casos. 

§ 3º O estágio curricular supervisionado, definido por lei, a ser realizado em escola de  educação básica, e respeitado o regime de colaboração entre os sistemas de ensino, deve  ser desenvolvido a partir do início da segunda metade do curso e ser avaliado  conjuntamente pela escola formadora e a escola campo de estágio. 

Art. 14. Nestas Diretrizes, é enfatizada a flexibilidade necessária, de modo que cada  instituição formadora construa projetos inovadores e próprios, integrando os eixos  articuladores nelas mencionados. 

§ 1º A flexibilidade abrangerá as dimensões teóricas e práticas, de interdisciplinaridade,  dos conhecimentos a serem ensinados, dos que fundamentam a ação pedagógica, da  formação comum e específica, bem como dos diferentes âmbitos do conhecimento e da  autonomia intelectual e profissional. 

§ 2º Na definição da estrutura institucional e curricular do curso, caberá a concepção de  um sistema de oferta de formação continuada, que propicie oportunidade de retorno  planejado e sistemático dos professores às agências formadoras. 

Art. 15. Os cursos de formação de professores para a educação básica que se  encontrarem em funcionamento deverão se adaptar a esta Resolução, no prazo de dois  anos. 

§ 1º Nenhum novo curso será autorizado, a partir da vigência destas normas, sem que o  seu projeto seja organizado nos termos das mesmas. 

§ 2º Os projetos em tramitação deverão ser restituídos aos requerentes para a  devida adequação. 

Art. 16. O Ministério da Educação, em conformidade com § 1º Art. 8o da Lei 9.394,  coordenará e articulará em regime de colaboração com o Conselho Nacional de  Educação, o Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação, o Fórum  Nacional de Conselhos Estaduais de Educação, a União Nacional dos Dirigentes  Municipais de Educação e representantes de Conselhos Municipais de Educação e das  associações profissionais e científicas, a formulação de proposta de diretrizes para a  organização de um sistema federativo de certificação de competência dos professores  de educação básica.

Art. 17. As dúvidas eventualmente surgidas, quanto a estas disposições, serão dirimidas  pelo Conselho Nacional de Educação, nos termos do Art. 90 da Lei 9.394. Art. 18. O parecer e a resolução referentes à carga horária, previstos no Artigo 12 desta  resolução, serão elaborados por comissão bicameral, a qual terá cinqüenta dias de prazo  para submeter suas propostas ao Conselho Pleno. 

Art. 19. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as  disposições em contrário. 

ULYSSES DE OLIVEIRA PANISSET 

Presidente do Conselho Nacional de Educação

BRASIL. Resolução CNE/CP 1, de 18 de fevereiro de 2002. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_02.pdf Acesso em: 31 dez. 2018.

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